sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Historia

Foi na velha Europa, no início da década de 80, que o movimento ambientalista, até então restrito à imagem de protetor dos bichos e dos parques, ganhou notoriedade e força política, irrompendo como protagonista no cenário mundial.

Os efeitos sócio-ambientais negativos, do processo de globalização, detonaram o surgimento de um movimento, que rapidamente ganhou as primeiras paginas dos jornais, atravessando de forma horizontal o sistema político tradicional, até então dividido pelas ideologias de Direita e Esquerda.

Junto aos novos sujeitos sociais como: movimentos dos consumidores, de gênero, das minorias étnicas, religiosas e sociais, os ambientalistas incluíram a “natureza” como sujeito fundamental com direito à cidadania.

As gritantes desigualdades entre O “Norte” e o “Sul” do Planeta, pela primeira vez foram identificadas com a exploração predatória dos recursos naturais perpetradas pelas nações ricas à custa dos paises pobres. As crises mundiais, políticas, sociais, energéticas, e ambientais começaram a ser lidas como uma conseqüência desse modelo desigual, aonde os paises ricos podiam consumir o 80% dos recursos naturais e os paises pobres (a grande maioria), consumirem apenas o 20% desses recursos.

O modelo de desenvolvimento global, seus mecanismos perversos, os modelos de consumo, o uso democrático e sustentável dos recursos naturais começaram a ser discutidos numa ótica global, superando o “nacionalismo tradicional”, até porque a questão ambiental transcende os tradicionais limites territoriais das nações. O aquecimento global que afeta todo o planeta é provocado, principalmente, pela demasiada emissão de gases de uma minoria de nações ricas. A destruição das florestas tropicais tem efeitos deletérios para o clima de toda comunidade internacional, uma ação ambientalmente irresponsável de um nosso vizinho terá um reflexo negativo direto na vida de todos nós.

Ao identificar as Nações Desenvolvidas como principal imputado desse modelo perverso, os ambientalistas começaram a pressionar o Grupo das Nações mais Ricas (G-7), que para garantir seu padrão de consumo e de vida, usam o capital financeiro e a ação das empresas multinacionais, para perpetuar a exploração econômica e ambiental dos paises pobres, que possuem abundancia de recursos naturais. Com tamanho desafio os ambientalistas reorganizaram suas ações, justamente na mesma escala das multinacionais: a escala global, aonde se joga a partida do futuro do Planeta e da humanidade. Nesse cenário o movimento ambientalista perdeu as características nacionais e tornou-se um movimento mundial.

Se perguntar hoje para um ativista do WWF internacional, ou do Greenpeace, onde está sua matriz. Se estiver no Brasil responderá que é no Brasil, mas dado que a Entidade tem presença em quase todos os paises do mundo, poderá dizer que sua organização tem sede central naquela tal Cidade daquele tal País. Que congrega tantos milhões de aderentes no mundo todo, que no Brasil têm tantos adeptos e que seu movimento é mais forte na Europa e menos na Ásia, e lá vai.

Na verdade isso em nada difere de outras agremiações globais, como por exemplo, as Igrejas. Os católicos sabem que a Santa Sede está no Vaticano, mas não por isso negam seu pertencimento à Igreja brasileira. Todas as outras confissões também trabalham nessa escala..

Assim sabemos que a Sede Central do WWF Internacional está na Suíça, como sabemos que o Greenpeace tem base central na Holanda, assim como os Amigos da Terra, mas todos eles agem no mundo todo, sem restrições nacionais, e quando se trata de agir em favor da causa ambiental, ninguém se faz problema de participar, seja aonde for, seja onde estiver.

A Multinacional Cargill é propriedade de uma Família Americana, mas ela atua em grandes partes dos paises do Mundo afora criando problemas sociais e ambientais, e não é de hoje que está sendo enfrentada pelos ambientalistas e movimentos sociais dos respectivos paises. Na década de 90, na Índia, a Cargill passou pelos mesmos problemas que está passando agora em Santarém, naquele País, teve que recuar ressarcindo financeiramente os prejuízos ambientais e sociais que provocou.

Entender o tabuleiro onde se joga a questão global é fundamental, isso para não cair no “provincianismo” que grupos trogloditas locais tentam insuflar na cabeça das pessoas, especialmente quando os interesses em jogo são grandes, e envolvem conflitos que podem ter sim, o seu ponto agudo em Santarém, mas que na verdade se jogam na mesa dos interesses globais.

A ação dos movimentos sociais e do Greenpeace contra a Cargill em Santarém, é apenas um dos lugares onde a Multinacional está sendo encurralada, e a pressão maior está sendo conduzida lá fora, com o mercado da soja e os seus clientes.

Quando a Cargill perceber, como já está percebendo, que com sua presença conflituosa em Santarém, perderá mercado global, não pensará duas vezes em migrar em outras direções, abandonando o campo, e dando um chute na bunda dos seus esquentados aliados locais. Eticamente isso é até discutível, mas todos sabem que no fundo, o mercado não tem alma.
Os movimentos ambientalistas foram criados a partir das décadas de 1960 e 1970, devido ao agravamento dos problemas ambientais. Sendo assim, eles surgiram para defender a natureza e atuam por meio de ONGs.

Os movimentos ecológicos, como também são chamados, são divididos em alguns tipos: o conservasionismo, o ecodesenvolvimentismo e o ecocapitalismo. O conservasionismo é o mais radical, a idéia é não utilizar mais os recursos da natureza. Isso é um tanto utópico, já que não podemos regredir no tempo e na tecnologia. Essas idéias que inspiram a ação dos movimentos mais ativistas, como o Greenpeace. Outra idéia é o ecodesenvolvimentismo, que acredita que podemos continuar nos desenvolvendo, mas de forma sustentável. A fundação SOS Mata Atlântica segue essa idéia. Finalmente, o ecocapitalismo que não se preocupa com o futuro. Acredita que devemos continuar a utilizar os recursos da natureza e só tomar decisões em casos extremos.

Atualmente, um dos principais movimentos ambientalistas são: WWF, GRUDE, Greenpeace e Fundação SOS Mata Atlântica. A missão do WWF-Brasil é contribuir para que a sociedade brasileira conserve a natureza, harmonizando a atividade humana com a preservação da biodiversidade e com uso racional dos recursos naturais, para o benefício dos cidadãos de hoje e das futuras gerações.O GRUDE (Grupo de Defesa Ecológica) tem como missão melhorar a qualidade de vida da população através da defesa e proteção do meio ambiente.

Existem muitas ONGs atuando no mundo inteiro, sendo que muitas atuam no Brasil. Elas alertam sobre os riscos ambientais que ameaçam o planeta e ajudam a estabelecer uma forma de convivência harmônica com a natureza.

O mundo capitalista em que vivemos atualmente está deteriorando o planeta. Essa situação tem que mudar e o primeiro passo já está sendo feito pelas ONGs. Entretanto, enquanto toda a população não se conscientizar, não resolveremos esse problema.
Considero-me participante do movimento ambientalista desde 1980, quando passei a integrar os quadros da Agapan – Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. Alguns fatos narrados aqui são objetos de pesquisa e outros vividos diretamente por mim. Depois vivenciei a Coolméia – Cooperativa Ecológica, onde participo até hoje eventualmente de algumas atividades. Em 1992, criamos a Pangea – Associação Ambientalista, para centralizar as atividades de um grupo de militantes na maioria egressos da Agapan.

O conceito de luta pelo meio ambiente variou bastante no século XX. Transitou entre proteção à flora, fauna e sítios de beleza natural até os ecossocialistas. O movimento ambiental está inserido neste contexto.

O que é de fato um movimento ambientalista? O entendimento comum da expressão significa um agrupamento de pessoas unidas em torno de alguns objetivos comuns envolvendo a conservação da natureza ou o desenvolvimento ecologicamente sustentado das comunidades em que vivem.

No nosso Estado, o ano de 1942 trouxe o livro “A Fisionomia do Rio Grande do Sul” do padre jesuíta Balduíno Rambo, um grande naturalista, impulsionador do Museu Anchietano e outras iniciativas, grande conhecedor do nosso território. Este livro, uma verdadeira enciclopédia de conhecimentos da área natural, incluiu um capítulo final sob o nome “Proteção à Natureza” (páginas 432-438, 2ª ed). Nele, Rambo defende a instalação no Estado de Parques Naturais, pela riqueza de suas formas naturais e o perigo incessante da destruição pela lavoura.

Afirma com todas as letras e em negrito “O mato rio-grandense está em grave perigo” (pag. 437). E continua: “E não são apenas as derrubadas da agricultura, é também a indústria madeireira, que, mais tempo menos tempo, despojará as selvas uruguaias de seus gigantes mais expressivos, e acabará por transformar os soberbos pinhais em tristes fachinais” (referindo-se à região do Alto Uruguai).

Rambo resume assim sua preocupação: “O homem, filho desta terra, que lhe fornece o pão de cada dia e os símbolos de sua vida espiritual, sente um RESPEITO inato perante a fisionomia desta sua mãe e pátria. Enquanto o espaço é suficiente e a densidade demográfica é pequena, não se tornam muito conscientes tais sentimentos; mas no momento em que as necessidades brutais da vida forçam a interferir sempre mais na expressão natural do ambiente, desperta a dor perante a destruição de suas feições naturais, e o desejo de as conservar, senão no conjunto, ao menos em alguns lugares e nos traçados mais característicos”.

Rambo influenciou e continua a influenciar gerações de pesquisadores e amantes da natureza.

Na mesma época, Henrique Luis Roessler, funcionário da Delegacia dos Portos e naturalista amador conseguiu credencial para a fiscalização voluntária de atividades de caça e pesca, atividades então muito comuns no nosso Rio Grande. As atividades do Roessler, como um lider nato, multiplicaram a fiscalização com a utilização maciça de cartazes e folhetos educativos. Não podendo mais utilizar a credencial, retirada pelo Governo atendendo justamente a pedidos de destruidores da natureza, criou a primeira entidade que catalogamos como ecologista no Brasil, a UPN – União Protetora da Natureza.

Roessler organizou o voluntariado através da UPN. Em cada ponto da região da bacia do rio dos Sinos e do planalto das araucárias havia representantes da UPN, atuantes, conscientes e respeitados em suas comunidades.

Em dezembro de 1959, Roessler comentava na sua crônica semanal no Correio do Povo Rural: “A União Protetora da Natureza está transformada em um centro coletor de queixas, como se fôssemos capazes de atender assuntos atinentes às autoridades. Muito nos honra esta confiança, mas nossa Sociedade é privada, pobre, e não subvencionada. Nós apenas podemos colaborar com os reclamantes, denunciando publicamente as infrações das leis e solicitar providências às Repartições competentes; apenas podemos orientar e aconselhar o povo, de acordo com os nossos Estatutos e Idealismo”. Ele referia-se à questão das queimadas, mas certamente seus comentários podem ser entendidos de forma mais ampla.

Roessler utilizou a mídia, o máximo que podia à época. Publicou 301 crônicas no Suplemento Rural do Correio do Povo entre fevereiro de 57 e novembro de 63, quando faleceu no dia 14. Era referência. Fez falta.

O seu espaço não foi preenchido imediatamente. Seus colaboradores ficaram meio que órfãos. A UPN foi minguando até praticamente desaparecer como organização.

Em 1970, pesquisadores vinculados ao Jardim Zoológico, Renato Petry Leal e Gilberto Conrado Mattes, e Nicolau Campos, Geraldo Guimarães Lindgreen e outros, provocaram uma grande discussão, através do Correio do Leitor, a seção de cartas do Correio do Povo, sobre a questão da caça, todos a favor da fauna. Caçadores participaram. Todos deram seu nome a um pedido de Augusto Carneiro: “Tenho acompanhado com interesse os vários pronunciamentos surgidos no Correio do Leitor sobre o assunto: defesa da fauna. ...dirijo-me a todos os que ainda querem salvar o que resta da natureza brasileira para dar uma boa notícia: em nossa cidade, um pequeno grupo de pessoas já começou a estudar o assunto com o fim de fundar uma entidade para defender a natureza ameaçada. Quem quiser colaborar, escreva para a Caixa Postal 1996.” Era novembro.

José Antônio Lutzenberger, nascido e crescido em Porto Alegre, formado em Agronomia na UFRGS, estava saindo da BASF para retornar ao Rio Grande do Sul. Procurou ainda na Europa referências a algum grupo de naturalistas ou naturistas local.

O grupo acabou encontrando-se. Dos naturistas também fazia parte o Augusto Carneiro.

O Carneiro é uma figura conhecidíssima em Porto Alegre, hoje em dia. Egresso do Partido Comunista, onde militava como propagandista, por discordâncias com o stalinismo e a guerra da Hungria, em 1956, passou a ler sobre questões da natureza, conhecendo Roessler através do Correio do Povo, mas não chegou a vê-lo pessoalmente. Trabalhou e se aposentou como funcionário da Justiça do Trabalho. Era livreiro e chegou a ter uma livraria. Bacharel em Direito pela UFRGS, trabalhou alguns anos como advogado. Foi um dos fundadores da Feira do Livro. Está todos os sábados pela manhã, na Feira Ecológica da Cooperativa Coolméia na rua José Bonifácio, em Porto Alegre. Com quase 79 anos.

A articulação redundou na criação de não uma Agapan, mas duas. A de Porto Alegre, cuja reunião de lançamento ocorreu em abril de 1971, e a de São Leopoldo, fundada uns meses mais tarde. A de São Leopoldo, em 1987, mudou seu nome para UPAN – União Protetora do Ambiente Natural.

Por oportunidade do lançamento, José Antônio Lutzenberger, até então um desconhecido, fez uma brilhante conferência intitulada “Por uma ética ecológica”. O texto do Lutz, brilhante, produziu resultados, reuniu interessados. É um texto básico que todos devem conhecer. Foi publicado em livros, distribuído como separata e chegou à era da Internet, onde está colocado à disposição no site da Fundação Gaia.

Aliás, assistir uma palestra do Lutzenberger sempre vale a pena.

Uma das entidades criadas para apoiar o golpe de 1964, a Ação Democrática Feminina Gaúcha, na década de 1970 assumiu bandeiras ecológicas, após assistirem a palestra do Lutzenberger chamada “Os quatro princípios básicos da ecologia”. A ADFG e a grande batalhadora Magda Renner passaram a ser grandes parceiras da Agapan na luta ecológica. Ela lembra quais eram estes princípios:

  1. O primeiro princípio era que em um espaço limitado, não pode haver crescimento ilimitado;
  2. A natureza não produz lixo, porque os detritos e dejetos e os cadáveres de uns são o alimento e a matéria-prima de outros;
  3. Todos os ecossistemas naturais são auto-sustentados e auto-regulados – só se desregulam quando nós intervimos de alguma forma; e
  4. A natureza não é um aglomerado de elementos e organismos vivos. Cada um tem o seu lugar e a sua função a cumprir.

As palestras do Lutzenberger e companheiros multiplicaram agrupamentos em todo o Brasil.

Houve dois grandes livros que influenciaram muito o ecologismo nos seus primeiros anos: Antes que a Natureza Morra, de Jean Dorst, e Primavera Silenciosa, de Rachel Carson. O primeiro, o Carneiro continua vendendo até hoje. O segundo teve os direitos comprados por uma multinacional da agroquímica e, diz-se, isto impediria sua republicação.

Em 1975, a ADFG promoveu um primeiro grande evento inédito no país, em Porto Alegre: o I Encontro Comunitário Nacional pela Proteção da Natureza, que reuniu mais de quinhentas pessoas vindas de outros estados brasileiros. Na reunião, foi apresentado projeto piloto para seleção e reciclagem do lixo doméstico, dez anos antes de qualquer outra iniciativa governamental. Houve pouco empenho, na época, da Administração Municipal para que o projeto funcionasse.


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