Na década de 20, a preocupação com o aumento da mortalidade por câncer no Brasil levou médicos e professores a procurarem o então presidente da República, Arthur Bernardes, que já havia sido governador do Estado de Minas Gerais, com a intenção de sensibilizá-lo sobre a necessidade da construção de um hospital especializado no tratamento da doença. O resultado do pedido foi a construção e inauguração, em 1922, do Instituto do Radium em Belo Horizonte, primeiro centro destinado à luta contra o câncer no Brasil. Apesar da inauguração oficial, somente no ano seguinte o hospital passou a funcionar regularmente.
Criado como fundação autônoma, o Instituto tinha por objetivo estudar o radium e os raios X, e também a tarefa de divulgar a doença ao público, realizar pesquisas científicas, realizar o tratamento do câncer e de afecções pré-cancerosas. Para a criação do Instituto, a participação do Prof. Eduardo Borges da Costa foi fundamental. O então diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) conseguiu sensibilizar as autoridades a custear o projeto. Estima-se que o Instituto tenha custado ao Estado, na época, cerca de 1.300.000 réis ou 2.200.000 francos. A primeira administração foi constituída pelo diretor Prof. Borges da Costa, vice-diretor Prof. Samuel Libânio e secretário-tesoureiro Dr. Levy Coelho. O serviço de Roentgenterapia era chefiado pelo Dr. Jacyntho Campos e o de Curieterapia (irradiação dos tumores através de agulhas de platina carregadas de radium) pelo Dr. Mário Penna.
O conjunto era dotado de um belo estilo arquitetônico e ocupava os fundos do Parque Municipal e parte da área da Faculdade de Medicina, em um terreno de 2.000 m2. O hospital possuía 120 leitos, distribuídos por 12 salas de enfermaria, para os pacientes sem recursos, e 12 apartamentos com um ou dois leitos cada para pacientes particulares. Além disso, tinha vários setores como laboratórios de pesquisa clínica, anatomia patológica, microbiologia e química biológica. Existiam ainda salas de cirurgia, sala para cursos, biblioteca e um museu. Anexo ao hospital, estavam os serviços ambulatoriais de urologia, ginecologia, cirurgia geral, dermatologia e otorrinolaringologia, todos destinados ao atendimento de pacientes externos. Tal era a importância do Instituto, que ele ganhou destaque no La Presse Médicale, importante jornal médico francês, da época
Um momento marcante da história do Instituto foi representado pela visita de Marie Curie e sua filha Irène, em agosto de 1926. No dia 17 de agosto, após longa viagem de trem, vindo do Rio de Janeiro, mãe e filha foram conhecer o Instituto, deixando as respectivas assinaturas no livro de registro de visitas . No dia 18, Marie Curie proferiu, na Faculdade de Medicina, uma conferência sobre a radioatividade e suas aplicações na medicina. O fato demonstra a importância dessa visita, ocasião em que foram fotografadas ao lado de personalidades médicas como Borges da Costa, Carlos Pinheiro Chagas, Baeta Vianna e Adelmo Lodi.
A partir de 1950, o Instituto de Radium passou a chamar-se Instituto Borges da Costa, em homenagem a seu fundador e primeiro diretor. Em 1967, foi incorporado ao patrimônio da UFMG. Dez anos mais tarde, em função da situação precária da construção, o prédio foi desativado e permaneceu de portas fechadas até 1980, quando passou a servir de moradia para estudantes da universidade, até 1998. Atualmente, o edifício está desocupado e a UFMG está empenhada na reforma e restauração desse patrimônio de inestimável valor histórico para a medicina brasileira. O projeto prevê a transformação do prédio num moderno hospital-dia (sem internações), funcionando como um centro para procedimentos médicos e para tratamento de pacientes oncológicos.
Breve nota sobre Marie Curie (1867-1934)
Nascida na Polônia e casada com Pierre Curie, recebeu por duas vezes o Prêmio Nobel, em reconhecimento a seus estudos sobre a radioatividade. Em 1903, junto com o marido Pierre e com A.H. Becquerel, recebeu o Nobel de Física. Becquerel descobriu, em 1896, a propriedade que certos minerais de urânio possuíam de emitirem raios semelhantes aos raios X. Marie e Pierre Curie descobriram a radioatividade do tório. Em 1898, isolaram o polônio (um novo elemento radioativo, 400 vezes mais poderoso que o urânio) e descobriram, ainda naquele ano, o radium, elemento ainda mais ativo que o polônio. Em 1911, foi condecorada com o Nobel de Química, por suas pesquisas sobre as propriedades do radium e características de seus compostos. A filha, Irène (1897-1956), foi sua assistente no Instituto Radium de Paris.
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